Como tudo começou...


Quando deu à luz ao seu único filho, aos 22 anos, a pernambucana Marleide Maria da Silva sofreu um derrame na vista. A partir daí, descobriu que estava com retinose pigmentar, doença degenerativa que a deixaria sem visão a qualquer momento, o que ocorreu treze anos depois, em 2005. Apesar das dificuldades dessa nova condição, Marleide teve rápida adaptação e nunca fraquejou diante dos obstáculos impostos pela deficiência.

Sua irmã Neide (que tem a mesma deficiência), que já morava em Santos, contou a ela sobre um projeto chamado "Motivação" criado pelo sargento Wilson, da polícia Militar, que ensinava diversas modalidades esportivas a pessoas com deficiência e sugeriu que ela se mudasse para lá. E foi com essa mudança que Marleide teve a chance de recomeçar. Saiu de sua terra natal e passou a se dedicar ao esporte, onde desde o início se saiu muito bem e se destacou. Ela então começou a correr, e logo em seguida tomou gosto pela natação também. Por último conheceu o ciclismo. Esses dois últimos pelas escolinhas de esportes de Santos. Atualmente pratica as 3 modalidades separadamente, e também faz o triathlon. Hoje, acumula diversos trófeus e medalhas, e alguns títulos muito importantes.


Na natação ela e sua guia nadam lado a lado, sob orientação da guia, que vai lhe avisando sobre a direção a seguir. No ciclismo, ela usa uma bicicleta Tandem, de dois lugares e a guia vai na frente no controle da troca de marchas e da direção. Na corrida, cada uma usa uma pulseira, unidas por uma corda elástica. “O esporte é uma forma de mostrar a mim mesma e aos outros que podemos nos superar”, afirmou a para-atleta que sonha participar de uma Paraolimpíada.

"Depois que eu comecei a praticar esporte perdi um pouco a minha timidez e foi através do esporte que eu decidi que eu ia pra feira sozinha, que eu ia para o supermercado, que eu viajo para qualquer lugar e sem medo", diz Marleide.

No ciclismo, esporte em que Marleide é profissional, ela é Tricampeã Paulista de Ciclismo Paralímpico, Tetracampeã Brasileira de Paraciclismo de Contra Relógio e Hexacampeã Brasileira de Paraciclismo de Estrada e também conquistou, em Julho de 2012, o Vice-campeonato no UWCT UCI Campeonato Mundial Ciclismo Amador, realizado no Rio de Janeiro, onde a categoria era única (masculino, feminino, misto e deficientes visuais).

Marleide é também a primeira mulher triatleta com deficiência visual da América Latina. Ela nada, pedala e corre. Para isso Marleide teve que aprender a ter confiança em outras pessoas, pois para nadar, pedalar e correr ela precisa de três guias, uma para cada modalidade, exceto nas competições oficiais, onde ela pode contar com apenas uma guia.

Somente no final de 2012 ela começou a competir em provas oficiais de Paratriathlon, válidas para o ranking brasileiro e mundial.

Entre os títulos brasileiros, Marleide é Bicampeã Paulista e Bicampeã Brasileira de Paratriathlon.

Em Outubro/2012, ela realizou um de seus maiores sonhos, que era participar de um mundial de triathlon. Marleide competiu na categoria Tri 6 e ficou com a 8ª colocação no Mundial realizado em Auckland, na Nova Zelândia.

Depois vieram outras competições no exterior ou de nível internacional, como o Campeonato Panamericano 2013, onde ela ficou com a 1ª colocação e a mais importante foi a final do Mundial de Paratriathlon 2013, em Londres, onde Marleide conquistou o 3º lugar em sua categoria, e foi também a única medalhista brasileira.

Em Outubro/2014. a etapa final do mundial aconteceu em Manaus (AM), e Marleide ficou com a 2ª colocação

Veja outros títulos em seu currículo.



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Sábias palavras de uma guerreira...


“Temos nossa limitação, mas o que atrapalha mais a pessoa com deficiência são os obstáculos que a própria pessoa põe.”

"Depois que eu comecei a praticar esporte perdi um pouco a minha timidez e foi através do esporte que eu decidi que eu ia pra feira sozinha, que eu ia para o supermercado, que eu viajo para qualquer lugar e sem medo."



“O esporte é uma forma de mostrar a mim mesma e aos outros que podemos nos superar”


“DESISTIR NÃO É COMIGO. ÀS VEZES FICO CHATEADA POR NÃO HAVER PATROCÍNIO POR PARTE DOS GOVERNANTES, POIS TIRAMOS DINHEIRO DO NOSSO PRÓPRIO BOLSO PARA INVESTIR NO ESPORTE. CERTA VEZ EM UMA COMPETIÇÃO EM SÃO PAULO, O PNEU DA NOSSA BIKE ESTOUROU NO PRIMEIRO QUILÔMETRO DE PROVA. A NELMA PENSOU EM DESISTIR, MAS EU PERGUNTEI PRA ELA SE A GENTE FOSSE EMPURRANDO A BICICLETA ATÉ O FIM DA PROVA AINDA VALERIA, ELA DISSE QUE SIM. ENTÃO EU FALEI QUE, PORTANTO, ERA DAQUELE JEITO QUE CHEGARÍAMOS AO FINAL. FOMOS EMPURRANDO A BIKE ATÉ À LINHA DE CHEGADA”



“No começo foi muito difícil sim. Teve o caso de uma pessoa que se sentou ao meu lado e disse que preferia estar morta a ser cega. E outro episódio, que nunca esqueço, foi quando subi em um ônibus e o motorista não me deixou entrar depois que percebeu que eu era deficiente visual.”




“Não enxergar me limita de algumas coisas, mas eu não fico em casa esperando que as coisas caiam do céu. Eu vou em busca do que eu tenho em mente.”



“Com a perda da visão a minha fé em Deus aumentou e eu sempre digo que eu não tenho a visão física, mas a minha luz espiritual é muito grande. E as pessoas falam: “Como você consegue viver na escuridão”. Eu não vivo na escuridão, eu tenho a luz divina. Então, isso eu ganhei, e isso ninguém me tira.”


"É como eu falo... a banda está passando... ou você aplaude, ou você acompanha. E eu não quis ficar parada aplaudindo!"

2 comentários:

Magali disse...

Dri, parabéns pela iniciativa e disposição em escrever. É disso que precisamos: exemplos de força e superação. Para a Marleide não há o que dizer, ela é valorosa e sabe que é. Beijinhos!

Educação Infantil disse...

Qualquer comentário seria singelo a tanta força! Esta é nossa Marleide Silva! :)